segunda-feira, 9 de julho de 2012

A própria justiça não enxerga a desigualdade de gêneros...

A rotina das mulheres casadas contemporâneas já é dura, com suas suas duplas jornadas de trabalho, num sistema perverso do neoliberalismo.  Mas, algumas contam com a participação masculina na criação, educação e sustento dos filhos.

Entretanto, as mulheres, mães, divorciadas ou sozinhas agravam mais ainda a desigualdade entre os gêneros. Donde as responsabilidades tornam-se um fardo pesado demais, contrariando os Princípios Constitucionais previstos num Estado Democrático de Direito. 

Por derradeiro, a triste realidade é que ainda nos dias atuais a sociedade privilegia o machismo e a justiça fecha os olhos para tamanha desigualdade. Vejamos a rotina de uma mulher abandonada pelo marido, depois de anos de casamento.


"Uma mulher não pode ganhar o sustento e criar os filhos ao mesmo tempo. As mulheres como um grupo não lucram com o movimento feminista moderno; no máximo algumas individualmente se beneficiam." Freud

"Todas as manhãs luto contra o despertador, embora o programe para tocar uma música clássica e suave, que insiste em interromper meu descanso da desintegração física do dia anterior. Levanto aos cacos, coloco água e pó de café na cafeteira, enquanto isso faço minha higiene pessoal (lavo meu rosto e escovo meus dentes), ponho a mesa do dejejum e faço a primeira refeição do dia. 

Abro meus correios eletrônicos e leio rapidamente as notícias nos jornais virtuais, pois o tempo não pára e relógio não atrasa os compromissos. Arrumo a casa, que consiste em varrer, lavar a louça do café-da-manhã, organizar algo para o jantar, coloco as roupas sujas na máquina de lavar, enquanto isso separo minha roupa de trabalho sobre a minha cama e vou tomar banho. Aí, começa o momento mulherzinha de me pentear, passar um filtro solar e as vezes dispenso a maquiagem pelo passar rápido dos minutos. Visto-me, e como as roupas da máquina de lavar já estão limpas, estendo-as minunciosamente esticando-as com as mãos para evitar passá-las, adotei essa metodologia para facilitar a vida e aproveito a desculpa da sustentabilidade. 

Como meu filho já é um universitário, não preciso me preocupar com o almoço que ele mesmo se alimenta na faculdade. Então, vistorio as janelas se estão todas fechadas e se os aparelhos eletrônicos estão apagados. Parto para o escritório, ando algumas quadras e pego o ônibus de integração do metrô, desço na estação metroviária e pego o trem para o centro da cidade, que dura aproximadamente quase uma hora. 

Chego ao escritório e começa a correria de trabalho, que me toma muitas vezes tempo superior da jornada legal. Pois, sou profissional liberal e não conto com as benesses das outras trabalhadoras. Logo, nem mesmo adoecer posso. Dado a preocupação de mãe sozinha em cuidar de um filho adolescente, monitoro-o pelo celular. 

Tirando os compromissos com pagamentos de contas, médicos, grupos de estudos e reuniões do jornal que participo, são raríssimas as vezes que consigo almoçar e acabo matando a fome com um suco e um salgado em pé num balcão da lanchonete mais próxima. 

O trajeto de retorno ao lar passo pelo mesmo itinerário de volta, com metrô e baldeação em ônibus. Nem preciso expressar que chego lá pelas 22h e assim, começa a minha terceira jornada. Preparar jantar, guardar as roupas já secas da corda, colocar a mesa da última refeição do dia, lavar a louça, limpar os banheiros e finalmente tomar um banho morno para tentar relaxar as tensões do dia. 

Converso com meu filho, tento suprir suas necessidades emocionais pela minha ausência. Pois, ele tem que se virar sozinho e tem sempre reivindicações. O pai voluntariamente ausente, apenas se faz presente pelas ondas da ligação telefônica.

Separo minha literatura do momento leio-a, estudo as novidades da minha área de trabalho, preparo meus textos e tenho meu momento cibernético. Outras vezes, aproveito a tranquilidade para cuidar da beleza, fazer as unhas, pintar os cabelos e já chega a madrugada. Hora de dormir e amanhã começa tudo de novo. São normalmente quatro horas de sono por conta das obrigações.

Aos finais de semana, vem a faxina da casa, a noite pago o preço da mãe neurótica em esperar pelo filho nas madrugadas pelas festas e eventos. Mas, nada como um bom livro de filosofia para acalentar a alma. O pai aparece somente aos domingos como referência para um pizza, com uma falsa visitação de aproximadamente poucas horas compartilhadas na tal refeição noturna. Pois, como refez a vida amorosa os vínculos paternos foram evaporando e suas atenções, compromissos são outros.

Minhas responsabilidade englobam desde o meu sustento integral, o quinhão referente ao meu filho e ainda há quem diga que temos igualdade gêneros." 

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