sábado, 11 de agosto de 2012

Pai... Presente !



O DIREITO DE SER PAI
Por Mirian Goldenberg*

No centro do palco da maternidade, a mulher não quer dividir o poder e trata o homem como mero figurante

Em homenagem ao Dia dos Pais, eu retomo aqui algumas das ideias que já defendi anteriormente na Folha de São Paulo, como a minha perplexidade diante da lei em vigor sobre a licença-paternidade. Como se pode acreditar que apenas cinco dias são suficientes para que o pai cuide do recém-nascido, enquanto a licença-maternidade é aplicada por quatro meses?
Cuidar de um bebê é muito mais do que garantir a ele o aleitamento materno. Os meses iniciais de contato são necessários para que tanto o pai quanto a mãe estabeleçam com a criança o vínculo afetivo que será fundamental ao seu desenvolvimento emocional e social.
É fácil perceber que muitos homens são impedidos de exercer plenamente a paternidade, já que as mulheres são percebidas como as legítimas detentoras do saber nesse domínio.
Elas são consideradas as únicas figuras realmente necessárias no momento inicial de vida, cabendo ao pai, quando muito, a função de "ajudar" a mãe.
Muitas mulheres vivem a maternidade como um poder que não querem compartilhar. Nesses casos, elas tratam os homens como meros coadjuvantes -ou até mesmo figurantes- em um palco em que a principal estrela é a mãe e, depois, as avós, as tias, as babás e as empregadas domésticas. Limitados a um papel secundário, os pais ainda são acusados de imaturos, ausentes, irresponsáveis e incompetentes quando não "ajudam" no cuidado do filho e nas atividades domésticas.
A antropologia ensina que é quase impossível transformar uma realidade social considerada "natural".
A ideia instalada de que existe uma natureza feminina destinada à maternidade tem sido utilizada para justificar o papel privilegiado da mulher e para marginalizar o homem da relação afetiva com a criança.
Não existe nada na "natureza" masculina que impeça um pai de cuidar, alimentar, acariciar, acalentar e proteger seu filho.
Assim como não há uma "natureza" feminina que dê à mulher a autoridade de se afirmar como a única capaz de cuidar de um bebê.
Se as crianças aprenderem que o pai e a mãe podem ser igualmente disponíveis, atenciosos, responsáveis, protetores, presentes e amorosos, é possível que, em um futuro próximo, exista uma maior igualdade entre homens e mulheres e a crença de que em nenhum domínio (público ou privado) um dos gêneros é superior ou mais necessário do que o outro.

Fonte: http://www.miriangoldenberg.com.br/
O DIREITO DE SER PAI
FOLHA DE SÃO PAULO
EQUILÍBRIO
31/07/2012



* Mirian Goldenberg é antropóloga e trabalha na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia e Departamento de Antropologia Cultural



A referida matéria aborda uma questão de extrema relevância, tanto que nossa legislação vigente vem respaldando a paternidade, não somente em relação ao direito do pai, mas em favor do bem estar dos filhos. 

Essa participação paterna em que a antropóloga Mirian Goldenberg aponta, certamente trará efeitos na construção de uma igualdade de gêneros e, por conseguinte, uma sociedade mais justa. Nossa cultura mudou e os homens estão participativos na criação e educação dos filhos. Entretanto, a legislação trabalhista precisa acompanhar tal evolução. 

Aquele modelo obsoleto patriarcal está com os seus dias contados, tanto que se desfez do ordenamento jurídico a figura exclusiva do "Pátrio Poder" emergindo o "Poder Familiar". Ou seja, ambos, pai e mãe atualmente tem uma ligação direta e mais saudável afetivamente com seus filhos. E, lembrando que no caso da ruptura do relacionamento, seja esta pelo divórcio ou pela dissolução da união estável, a lei prevê a guarda compartilhada. Trazendo assim, a figura paterna para mais próximo dos filhos. 

Cumpre salientar ainda, a relevância da proibição da alienação parental, cujo prejuízo emocional das falsas memórias deve ser expressamente combatidas. Acredito que isso talvez, seja o intuito da antropóloga em alertar para os danos psicológicos que afetarão não apenas a questão individual em si, mas a coletividade. 

Desta forma, não somente a conquista da mulher em nossa sociedade tem alcançado a preocupação do legislador, como também a questão paterna tem sido mais abrangente. Não estando fadado tampouco a figura de pai provedor.

Enfim, a participação paterna mais presente na vida do filho quebra o desequilíbrio de gêneros e iguala, tanto as obrigações quanto responsabilidades, na criação e formação dos filhos. Sendo, consequentemente positivas na formação da sociedade contemporânea.

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