segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Ana Claudia Garcia: NEUROSE E PSICOSE / A PERDA DA REALIDADE NA NEURO...
NEUROSE E PSICOSE / A PERDA DA REALIDADE NA NEUROSE E NA PSICOSE - Freud (1924)
Apresentação grupo de estudos: Ana Claudia Garcia (2024)
Neurose e psicose (1924);
A perda da realidade na neurose e na psicose (1924).
NEUROSE E PSICOSE (1924)
No
presente texto estudado, Neurose e Psicose de 1924, Freud vai trabalhar na
direção da estrutura para diagnosticar as psicopatologias e os conflitos que as
diferenciam, pois se dão de maneira distintas nas estruturas da neurose e da
psicose, como ele mesmo aponta: “a neurose é o resultado de um conflito
entre o Eu e seu Isso, ao passo que a psicose é o resultado análogo de uma
perturbação semelhante nas relações entre o Eu e o mundo exterior” p.
271/272.
Freud
nesse texto diferenciou a neurose, a paranoia e a melancolia em relação ao
conflito psíquico de cada uma dessas estruturas clínicas. Não tratando da esquizofrenia
propriamente, como veremos adiante.
Cumpre
ressaltar, quanto as estruturas clínicas aqui estudadas, neurose e psicose, que
na neurose se dá o recalque [Verdrdngung] e na psicose a rejeição ou forclusão
[Verweifung], como apontado pela nota de apresentação ao texto p. 9.
Inicialmente, antes de nos atermos ao
texto aqui estudado vale ressaltar o texto publicado anteriormente em 1923, O
Eu e o Isso, como o próprio Freud destaca, em que tal texto trata do
desmembramento do aparelho psíquico. Apresentando então, o SuperEu, que vem
complementar esse desmembramento do aparelho psíquico em três instâncias: O Eu,
o Isso e o SuperEu. Sendo, o SuperEu o “herdeiro do complexo de Édipo e representante
das exigências éticas do ser humano” p. 123 do aludido texto.
Ademais,
vale também ressaltar o texto O Além do Princípio do Prazer publicado
1920, em que Freud traz a ampliação da dualidade pulsional, pulsões de autoconservação
e as pulsões sexuais dirigidas ao objeto, entre pulsão de vida e pulsão de
morte. Para entendermos a moção pulsional do Isso.
Portanto,
ambos os textos da segunda tópica nos ajudam pensar a articulação do aparelho
psíquico na teoria do estruturalismo freudiano.
Todavia,
as neuroses de transferência, ou seja, histeria e neurose obsessiva tentam
barrar a pulsão do Isso ao objeto, através do mecanismo de defesa, o recalque,
produzindo o sintoma. Então, o Eu ao empreender o recalcamento está sob é égide
do SuperEu que é representado pelo mundo exterior. Logo, o conflito do Eu
com o Isso é o estado das neuroses de transferência.
Por conseguinte, Freud vai pontuar quanto
aos mecanismos da psicose que será “a perturbação das relações entre o Eu e
o mundo exterior” p. 273, ou seja, o conflito se dá diferentemente da
neurose, entre o Eu e o Isso (pulsional).
Freud, destaca “a aguda confusão
alucinatória” descrita por Theodor Meynert em 1890, para salientar que na
psicose “o mundo exterior não é absolutamente percebido, ou sua percepção permanece
totalmente ineficaz” p. 273 (idem). Portanto, em conformidade com o seguinte
texto A perda da realidade na neurose e na psicose, considerando que o
Eu é governado pelo mundo externo, a realidade é sempre psíquica, mesmo a
realidade compartilhada que é uma criação porque olhamos para o mundo a partir
dos nossos próprios traços, daquilo que nos foi passado. Pois, quando nos
deparamos com os objetos, esses já têm forma e significação. Então, a percepção
é sempre psíquica porque está submetida e constituída no Eu. Porém, na psicose se
perde esse recurso da realidade compartilhada pelo senso comum.
No decorrer do texto, Freud vai apontar
para outras formas de psicoses, citado que as esquizofrenias “tendem a
desembocar em um embotamento afetivo, isto é, na perda de toda participação
no mundo exterior” p. 273 (idem). Trazendo inclusive, que o delírio se
apresenta como um remendo dessa “fissura na relação do Eu com o mundo exterior”
p. 273 (idem, ibidem). Pois, temos aqui o delírio como uma tentativa de reconstrução
e cura.
Adiante no texto, Freud vai abordar
a psicose (paranóia) e as neuroses narcísicas (melancolia), diferenciadas pelo conflito
do Eu com o mundo externo na paranóia e o conflito do Eu com o SuperEu na
melancolia.
Na
melancolia, o conflito se dá entre o Eu e o SuperEu. Nesse caso, não vem de
fora, mas essa relação é direta a partir do peso do SuperEu. Freud descreve
metaforicamente em seu texto Luto e Melancolia que “A sombra do
objeto caiu sobre o Eu, que agora pôde ser julgado por uma instância
especial, como um objeto, como o objeto abandonado.” p. 107. Logo, na
melancolia, o sujeito perde o Eu e fica submetido enquanto objeto do SuperEu.
Freud
ressalta ser necessário maior aprofundamento quanto a origem das neuroses e
psicoses no “conflito do Eu com as várias instâncias que o controlam,
correspondendo a um fracasso na função do Eu que mostra seu esforço em
conciliar as exigências das várias instâncias.” p. 275. E, conclui seu texto com
uma questão: “qual seria o mecanismo análogo ao do recalcamento, através do
qual o Eu se desliga do mundo exterior?” p. 276. Em resposta acrescenta que
seria necessárias mais investigações, pois esse mecanismo teria, “como o
recalcamento, de ter como conteúdo a retirada do investimento enviado pelo Eu”.
A
PERDA DA REALIDADE NA NEUROSE E NA PSICOSE (1924)
Importante, conciliar esse texto A
Perda da Realidade na Neurose e na Psicose publicado no mesmo ano do texto
anterior, Neurose e Psicose, eis que nos traz complementos necessários para
o entendimento da diferença nas estruturas neuroses e psicoses. Outro texto
também, relevante, é o A Negação de 1925, que nos ajuda quanto ao
funcionamento estrutural.
Freud
nos traz que na neurose “o Eu, dependente da realidade, reprime [unterdrückt]
uma parte do Isso (da vida pulsional), enquanto o mesmo Eu, na psicose, a
serviço do Isso, afasta-se de uma parte da realidade” p. 279. Portanto, tanto
na neurose quanto na psicose há a perda da realidade, sendo predominante na
neurose a influência do real e na psicose o Isso.
Desta
forma, na neurose diante da realidade tende ao recalcamento da moção pulsional.
Portanto, “a perda de realidade diz respeito exatamente àquela parte de
realidade a partir de cuja exigência ocorreu o recalcamento da pulsão” p.
280.
Freud,
ainda menciona o caso clínico de Elisabeth von R., publicado em 1895, nos Estudos
sobre Histeria, o famoso caso da jovem apaixonada pelo cunhado que com a
morte da irmã sofre de paralisia nas pernas, para demonstrar que “a neurose
desvaloriza a alteração real, na medida em que recalca a exigência pulsional
em questão, isto é, o amor pelo cunhado” p. 281. Enquanto, na psicose diante da
situação “a reação psicótica teria sido recusar [verleugnen] a realidade
do fato da morte da irmã” p. 281. Pois, na psicose o Eu é retirado da realidade,
mas restabelece uma outra realidade pelo Isso.
Freud
vai trazer que na neurose tem a fantasia e na psicose tem o delírio. Então, o
delírio psicótico é análogo à fantasia do neurótico.
A
perda da realidade acontece na neurose, a partir dos recalques originário e
secundário e retorna na fantasia. No texto A Negação publicado no ano
seguinte, 1925, Freud vai apontar que “como condição para a instalação da prova
de realidade, que tenham sido perdidos os objetos que um dia trouxeram
satisfação real” p. 309. Portanto, tal retorno, se dá em direção àquilo que
pensa ter tido um dia satisfação, ou seja, o recalque faz o retorno da libido
para onde pensa ter tido um dia satisfação, instaurando, dessa forma, os pontos
de fixação. Além disso, Freud salienta que esse retorno se dá pela
fantasia.
Então,
nesse aludido texto, Freud vai apontar que somente se representa a coisa na
ausência dela. É preciso perder esses objetos para que possa começar a colocar
ali os representantes da representação no lugar desse objeto. E, essa operação
não acontece nas psicoses, eis que “o negativismo de certos psicóticos, deve
provavelmente ser entendido como um sinal de desfusão pulsional [Triebentmischung],
através da retração dos componentes libidinais.” P. 310.
Na
psicose, como não há recalque secundário, – ou seja, o recalque propriamente
dito –, o retorno vem de fora, tomando o sujeito na forma do delírio. Essa
recusa da realidade se impõe de forma repetitiva, insiste sem parar.
Assim,
tanto na neurose como na psicose, há a perda da realidade. Apenas os mecanismos
se divergem, sendo que a fantasia está para neurose, bem como o delírio está
para psicose. Freud, salienta que a “neurose não recusa [verleugnet] a realidade, apenas não quer saber nada sobre ela; a
psicose a recusa e procura substituí-la” p. 281.
Jacques
Sédat em seu texto Compreender Freud aponta: “Freud descobre que é a
fantasia que organiza a realidade exterior, pois é a fantasia enquanto tal
que está aí para elaborar subjetivamente, caso por caso, o modo pelo qual
podemos introjetar, perlaborar os acontecimentos que ocorreram.” P. 53. Pois, “a
fantasia elabora a realidade psíquica e se interpõe entre cada sujeito e a
realidade exterior.” P. 53 (idem).
Lacan
no Seminário 3 – as psicoses – Vai apontar que “a respeito da
neurose, é preciso entender por recalque.” P. 55. E, em referência ao texto
da Perda da realidade, salienta que na neurose “Freud sublinha isso logo
de saída, a realidade que é sacrificada na neurose é uma parte da realidade
psíquica.” Pois, “a realidade não é homônima de realidade exterior.” Então, o
neurótico apaga uma parte da realidade psíquica, ou seja, do Isso.
Referências bibliográficas:
Freud, Sigmund; Neurose e psicose
(1924), Belo Horizonte; Autêntica Editora, 2016 (Obras
Incompletas de Sigmund Freud).
_____________; O Eu e o Id, Vol.
16, Cia das Letras, 2011.
_____________; Manuscrito H [anexo
à carta a Fliess de 24 de janeiro de 1895], Belo Horizonte; Autêntica Editora,
2016 .
_____________; Luto e melancolia
(1917), Belo Horizonte; Autêntica Editora, 2016.
_____________; A perda da realidade
na neurose e na psicose (1924), Belo Horizonte; Autêntica Editora, 2016.
_____________; A Negação (1925), Belo
Horizonte; Autêntica Editora, 2016.
Sedát, Jacques; Compreender Freud,
Edições Loyola.
Lacan, Jacques; Seminário 3, as
psicoses (1955/1956), Jorge Zahar Editor; Rio de Janeiro, 1985.
Pois, somente a vida não basta...
Em total desprendimento com o silencio indaga respostas já ditas, numa maneira incisiva, porém elegante, rechaçando assim, a finitude de sentimentos.
Seu descontentamento, quanto aos sentimentos avulsos e calados nos leva a ouvir o grito aflitivo lançado ao infinito em busca de um Cais. Então, a Gaivota libertária nos compartilha seus desejos e inquietações da alma feminina, embora tão fácil de entendimento, mas somente sentida pelos atentos.
Assim, a Poetisa aborda as questões existenciais femininas diferentemente, da angustiada Clarice Lispector, Nely Nazareth não é uma pergunta e sim, a resposta.