domingo, 27 de novembro de 2011

NESTA TERRA NESSE INSTANTE - Marilia Guimarães




Chega às minhas mãos, presenteado pela própria autora, NESTA TERRA NESSE INSTANTE, seu livro de memórias de uma história de vida, com a seguinte dedicatória emocionante:

Ana Claudia,
          O mundo se constrói encima de sonhos.
E, foi através dele que logramos chegar até aqui. Conto com você.
Sua força para seguir construir o que tem de melhor para a humanidade.

Beijos

Marília Guimarães

20/11/2011




Transcorro aquelas páginas, num olhar curioso e, ansiosa para chegar em casa e devorá-las. Pois, Marília é uma mulher encantadora, extrovertida e com o mesmo espírito jovem da época revolucionária, ou seja, continua a corajosa Mirian da VPR que não hesitou em lutar contra a ditadura. E, agora busca um mundo melhor.

Por todas as histórias que li daquela época, me impressionou a garra leonina desta Mãe combatente, em salvar suas crias das mãos da tortura.
   
“Felizes, risonhos, chegamos ao minúsculo aparelho. Trinta e tantos dias de ausência, de medo de perdê-los, de pânico de que fossem presos. Agora sim, se tudo desse errado não importava, estávamos juntos de novo.

Louca! Desvairada! Inconseqüente! Desumana!!!... Como pode expor assim seus filhos, sua maluca?
 Meus filhos, acima de todos. Olhei os dois. Tão ternos, tão carentes de infância, de juventude e de maturidade. Tão pequeninos! Por eles, por todas as crianças do meu triste país, pelos que têm direito de conhecer o mar, pelo direito que todos têm de ser felizes, como dizia Martí. Por todos eles.  

Tempo. Tempo de amar. Tempo de ser feliz. Tempo de liberdade. Tempo de guerra, para encontrar a paz. Tempo de esperar."
Surpreendente, a narrativa do livro, na qual pude dar boas risadas com seu depoimento no DEOPS, até às lágrimas compassivas por todo o seu sofrimento. Numa mistura de sentimentos, em que a autora poetiza seu medo, sua agonia e angústia, sua felicidade, diante da ousadia de “Nunca perder a ternura, jamais !”

E, assim, discorre sua saga no sequestro do avião Caravelle, juntamente com seus dois filhos menores, até Cuba.
"Todos me olhavam. Uns, tranqüilos diante do inevitável; outros, resignados, exceto aquela senhora.
Que sabia aquela mulher de sofrimento, que sabia das torturas e torturados, que sabia de liberdade, de pão, de sede e frio? Do povo massacrado, sofrido, sem esperança? Dos nossos sonhos de liberdade? Da alegria, ao ver as crianças de rua em escolas, de homens e mulheres não violentados, trabalhando com dignidade? Do amor à pátria? Um dia, talvez saberia. Eu não estava expondo meus filhos. Estava impedindo que eles fossem torturados em nome da ordem e do progresso. “
Aonde, finalmente, consegue chegar à Terra Prometida e recebida com braços abertos.

“Que avenida florida! Quantas árvores estupidamente frondosas, quantas margaridas! Igrejas, mansões!... Quantas mansões! Olhava atônita. Será que nos blefaram!?

Cuba não era cinzenta e triste? Não era!? Parece-me que não!...
A energia emanada daquele solo fez-me voltar mansamente à vida...
Ao dobrar a esquina, um cinema. Em cartaz “Les Parapluies de Cherbourg”. Esse filme passando aqui?... Esse filme? Aqui? Será uma alucinação!? Como controlar esse sintoma? Não agora!

Quantas mulheres elegantes! Vestidos godês!... Penteados B-52, saltos Luiz 15. Deve ser um filme de época... Mary Quant lançou a minissaia, libertando a mulher dos milhões de anáguas, da censura sexual. Pouco a pouco, também, fomos nos libertando do jugo machista.

É importante registrar todas as épocas, pensei com meus botões.
O hall do hotel Capri, apinhado de gente que circulava de lá pra cá, deixava escapar a esfuziante alegria dos atores.

Não estava tendo alucinações! Todos os personagens estavam vestidos assim. Menos mal! Ainda mantinha a consciência.

Divertida, essa Cuba!
Nem percebi quando preenchi a ficha do hotel, muito menos quando mudaram meu nome e os dos meninos, tal a curiosidade de olhar ao redor.
Subimos ao quarto, banhei-me e aos meus meninos. Coloquei-os na cama e jamais poderei precisar como ou quando conciliei o sono.

Um surdo barulho de ondas entrou sorrateiramente pelos meus sentidos:
- Dormi!!! Como pude dormir!? Dormi?

Pulo da cama sobressaltada, tropeçando. Vou a caminho da luz que vem discreta através a janela.
Abro a cortina.
Diante dos meus olhos embaçados, vejo o mar. Furioso, agressivo, quebrando suas gigantescas ondas no Malecón, anunciando Enero: inverno acima do Equador.”
Notícias: JB
http://news.google.com/newspapers?id=78oVAAAAIBAJ&sjid=3g8EAAAAIBAJ&hl=pt-BR&pg=6725%2C266354

  




Um comentário:

  1. Simplesmente lindo! Tanto o agradecimento e comentários, como as palavras do livro.
    Também quero!!!

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