quarta-feira, 16 de novembro de 2011

As manifestações de sadismo de um público perverso...

Seja num romance ou num filme, os momentos bizarros são emoções que deveriam causar repulsa...


Um dos mais duros e talentosos autores franceses das últimas décadas, Thierry Jonquet se firmou no concorrido e exigente mercado europeu com  romances policiais e narrativas com grande pendor político. Em Tarântula que inspirou o novo filme de Almodóvar, A pele em que habito, ele visita a barbárie moderna para criar uma fábula perversa de horror sexual e sadismo.

Uma história com ares de Marquês de Sade e estética à la Bosch, onde o protagonista é um misto de Dr. Frankstein e Prometeu, o mítico herói grego que rouba a luz dos deuses para dá-la aos mortais. O resultado é um espetacular thriller, uma narrativa desumana, cínica e eticamente dúbia.

Richard Lafargue é um eminente cirurgião plástico assombrado por perversos segredos. Mantém uma sala de cirurgia no porão de seu castelo... e sua esposa Eve presa no quarto. Um cômodo equipado com um comunicador através do qual dita ordens. Eve somente é libertada para ser exibida em coquetéis. E no último domingo do mês, quando o casal visita uma jovem num asilo para doentes mentais. Após os passeios, Lafargue humilha Eve e a obriga a manter relações com estranhos enquanto observa.

Em capítulos alternados, Jonquet nos apresenta, ainda, diferentes personagens, aparentemente sem nenhuma conexão entre si. Um criminoso em fuga após matar um policial; um jovem acorrentado, nu, em uma câmara escura, forçado a sofrer todo tipo de tortura nas mãos de um misterioso estranho a quem chama de Mygale, nome de uma aranha tropical. Todas essas pessoas estão presas numa teia de intrigas, destinadas a encontrarem seu destino.

Jonquet move magistralmente as peças desse jogo, ampliando o suspense a cada novo capítulo, construindo em Tarântula um romance que captura e envolve como uma aranha à sua presa.



O longa "A pele que habito" de Pedro Almodóvar, chega às telas dos cinemas. Aproveitando o feriado aproveito para assistir tal filme. De uma narrativa tensa num suspense requintado, característica peculiar desse diretor, temos conforme menciona a sinopse da editora supra mencionada, uma mistura de sadismo e perversão com cenas fortes de tortura.

O filme em si aborda uma questão reflexiva e vale conferir. Porém, o que me causou surpresa e uma estranheza angustiante, foram os risos sádicos dos espectadores na sessão do Cinema Leblon.

Bairro localizado na zona sul do Rio de Janeiro, o Leblon, não é apenas conhecido pelas novelescas de Manoel Carlos. E, sim, pela frequência de intelectuais e uma classe privilegiada, cuja cultura e conhecimento ultrapassam a média.

Em algumas das cenas, mais sensíveis que se esperaria uma reação de compassividade do espectador, ou seja, se colocar na dor do outro. Fiquei estarrecida com o comportamento daqueles que não foram em número reduzido, lançaram gargalhadas. Numa demonstração de sadismo e identificação aterrorizante com a cena final, exposta na dor e no sofrimento da vítima.

Não vai longe, numa sessão com meu filho adolescente no mesmo Cinema Leblon, no longa "Tropa de Elite II", o público em peso lançou palmas delirantes na cena mais sádica. Nos causando perplexidade.

A questão em si, do comportamento de uma classe privilegiada socialmente, é extremamente preocupante. Principalmente, pela ausência de compaixão nessas demonstrações fascistas em se satisfazer com o sofrimento alheio, mesmo na arte.

Infelizmente, em plena era contemporânea do século XXI, em que os valores éticos deveriam ser considerados, estamos diante de uma apatia burguesa em que há uma distorção dos heróis. Sendo mitificados os criminosos, os perversos e, principalmente os poderosos.

Então, fica aqui registrado o meu repúdio ao sadismo dessas pessoas alienadas ao sofrimento humano e a essa era de individualismo.

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