sábado, 30 de abril de 2011

LUCIANA DE MORAES

O ABSURDO E O SUICÍDIO (Camus)


“A idéia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más.” Nietzsche

“É uma resposta aos que chamam ao suicídio um fim de covardes e de fracos, quando são unicamente os fortes que se matam! Sabem lá esses pseudo-fortes o que é preciso de coragem para friamente, simplesmente, dizer um adeus à vida, à vida que é um instinto de todos nós, à vida tão amada e desejada a despeito de tudo, embora esta vida seja apenas um pântano infecto e imundo!” Espanca


Luciana era filha do nosso saudoso poetinha, Vinicius de Moraes, que nos deixou um legado de amor, em suas obras também cantadas. Era também, bisneta da compositora Chiquinha Gonzaga que foi um marco artístico.

Conheci Luciana num bar do baixo Leblon, discreta costumava sentar-se ao final do recinto. Conversamos poucas vezes, sendo que num desses contatos me chamou atenção a sua tristeza e melancolia.

De acordo com as notícias publicadas nos meios de comunicação, Luciana amargava uma depressão e estava em tratamento, apesar do trágico ocorrido nesta semana ao se jogar da janela do seu apartamento.

Imagino a dor que Luciana estivesse passando, a ponto de desistir de tudo e cometer o suicídio, na tentativa desesperada de findar seu sofrimento. Pois, somente quem passa por depressão pode se ter uma idéia da angústia vivida sem esperança de melhora.

Reportando-me ao belíssimo ensaio de Albert Camus, em o Mito de Sísifo, “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia... Em compensação, vejo que muitas pessoas morrem por achar que a vida não vale a pena ser vivida. Vejo outras que paradoxalmente se fazem matar pelas idéias ou as ilusões que lhes proporcionam uma razão de viver (o que se chama uma razão de viver é, ao mesmo tempo, uma excelente razão de morrer). Julgo, portanto, que o sentido da vida é a questão mais decisiva de todas. E como responder a isso?... O suicídio sempre foi tratado somente como um fenômeno social. Ao invés disso, aqui se trata, para começar, da relação entre o pensamento individual e o suicídio... Matar-se é de certo modo, como no melodrama, confessar. Confessar que se foi ultrapassado pela vida ou que não se tem como compreendê-la... essa relação entre o absurdo e o suicídio, a medida exata em que o suicídio é uma solução para o absurdo.”

Assim, Luciana solucionou o absurdo do seu sofrimento, causado pela doença da alma, cometendo uma espécie de eutanásia.

3 comentários:

  1. Excelente analise. Gostei. Camus defini muito bem a medida exata da resistencia á preservação da vida ou negação dela.

    ResponderExcluir
  2. Procurava por um texto que enunciasse com sofreguidão e pesar, ao passo que analisando, a morte de Luciana.

    Devo dizer que fez jus à morte de Luciana com tão belas citações, com poetas tão consagrados e existencialistas, que com certeza a entenderiam a dor vivenciada.

    Quanto a nós, que lemos isso, a vida prossegue.

    Imaginando o seu já respaldo literário, deixo algumas referências musicais, para ouvirmos enquanto a morte não vem.

    "Pulsos" (Pitty), "O Suicídio" e "Canto para minha morte" (Raul Seixas), "Essa noite, não" (Lobão) e para não se prender só ao caos da morte, mas também da vida, "Vida Louca Vida" (Cazuza).

    ;D

    ResponderExcluir
  3. Obrigada Webert, pela participação.
    bjs
    Ana Claudia

    ResponderExcluir